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O EPISTOLÁRIO

O  Epistolário


 

De um tempo distante, apenas conhecido pelos mais velhos através de lendas, correspondências foram os únicos registros que restaram para relatar a luta de um povo que se serviu da bravura para reivindicar a liberdade.

Eles foram liderados pelo mais nobre dos homens, alguém que um dia partiu guiado pelo sonho e retornou repleto de sabedoria. Assim foi entre os homens desta nação, em dias que a afronta se calava com lâmina e sangue, ele ergueu sua espada, almejando somente à justiça. 

Havia outros com ele, dos quais tornara-se irmão quando esteve distante e juntos nos ministraram a maior lição que pode ser ensinada a um homem.

Tudo isso se passou numa era em que a força oprimia qualquer clamor de paz e para que jamais caia no esquecimento tão gloriosa epopéia vivida por homens que a honra ostentavam consigo, para que ecoe por toda a eternidade o nome de guerreiros e seus feitos heróicos; enfim, para que as gerações que estão por vir tomem conhecimento e lhes sirva de exemplo, eis que vos apresento “O Epistolário”, este é o legado que vos foi deixado.


 


 

para que vossos líderes tomem conhecimento 

da verdade que se faz presente entre nós:

Carta  aos  Bárbaros

                                   meu nome é Kranchinsk, 

                                             lembrai que já estive convosco.

 

Escutai, incautos, pois , lhes previno: Temei!

Sabeis agora que os bravos se uniram e estou entre eles

Homens valorosos, são nobres de espírito e simples de coração

Porém, aos maus, reservá-lhes-a apenas ira e revolta por seus atos

 

Acautele-se com seu número, pois, tal como

O  grandioso exército, eles marcham. Possuem também

A sabedoria do reis e a coragem dos guerreiros.

Leviano é teu pensamento se julga poder enfrentá-los.

 

Repudiai nosso desprezo e perseverai na verdade

Felizes daqueles que estiverem ao nosso lado

E possuírem nossa gratidão: eterna será vossa recompensa

Pois santo é nosso nome e bendito são nossos ideais.

 

Em momentos de amargura, lágrimas, jamais vereis

Pois somos fortes e só a mágoa poderá acaso nos afligir

Mas, incauto, se fores tu a causa de nossa dor

Sabeis que a punição será breve e nosso castigo cruel.

 

Em momentos de vingança, pedimos apenas

A proteção dos Senhores da Guerra

Pois temos escrúpulos de clamar

Por glórias divinas por motivos impuros.

 

Que o mal não reine em nosso caminho

E que em cada luta que se faça necessário nosso sangue,

Que ele caia com honra sobre os corpos

Dos nossos mais temíveis inimigos.

                      À todos vós, pela glória da Irmandade.

    

Canções  de  Humildes

de seu mais devoto súdito: Sebos

Como pequenos somos se comparados à grandiosidade

Daqueles ao qual, um dia, te juntaste

Sabeis que os bardos decantam teu nome pelas praças de nosso reino

E que nossas crianças perguntam sorridentes por ti.

É com orgulho que recordamos do tempo em que estavas ao nosso lado.

 

 É inevitável porém, quando conta-nos de tua ventura,

Sermos tomados pela nostalgia que traz a tona

As mais belas lembranças de nossa áurea era,

A qual tiveste a graça de vivê-la e com tristeza agora,

Urge saberes: Tal tempo se foi.

 

Doze luas após tua partida os ventos do leste cessaram

Pestes e pragas recaíram sobre nós e nossas terras

Apenas as lágrimas de nossas mulheres ousaram banhar o chão

Em verdade te digo: nunca, em reino algum, se viu tamanha miséria

Agora sofremos o castigo de um crime que sequer cometemos.

 

Se são provações de um caminho,talvez fôssemos capazes de superar

Mas a tirania do parasita monarca nos inibe

Este que abundantemente ostenta aquilo que ao povo é escasso

Não hesita em derramar sangue humilde pela unidade de seu reinado

Assim,respeito o poder de seus braços,mas o coração,em íntimo,o odeia

 

Dia a dia perdemos a sabedoria dos velhos que caem enfermos

Vejo os filhos de nossa pátria manejando montantes

Nossas mulheres choram e tememos por elas, quando rezamos por nós.    

Pergunto então: Do que valerá ter se juntado aos bons

Se os teus sofrem suplícios em tua terra natal ?

 

Acredito na bondade de teu coração e lhe entrego o destino desse povo

Não mais contemplarei com vida as angústias a eles impostas 

Sim, somos fracos, mas tu e os que estão contigo são poderosos  

O espírito dos grandes estará contigo.Deixai que as estrelas te guiem

E que os deuses olhem por ti quando se compadecerem de nossa dor.

                                           À Kranchinsk, por nossa pátria.

 

 

De Vossa Majestade, o rei Zard:

          Cartas  De  Nosso  Reino

 simplesmente a verdade

Agora claramente enxergo teu real valor, outrora oculto

Tu, que lideraste a plebe e em teu favor lutaste

Concedia-me, a cada reivindicação que fazia junto a mim,

O orgulho e o prazer de reinar sobre tão virtuosa nação.

 

Mas tudo isso um dia se foi e hoje se prende ao passado

A muito não sorrio, pois não há motivos para sorrir.

Por tão caótica situação a que se encontra o Estado

É que te revelo palavras que jamais outro ouvira de minha boca.

 

De veras, há fundamento nas afirmações do manuscrito que recebeste

Visto que, os fatos aqui ocorridos dão vazão a diversas interpretações

Que a todo instante são distorcidas e lançadas ao povo com impacto 

Feito exercido pela vil nobreza, que este reino infecta com suas ações.

 

Entre os feudos, de menor proporção é o da coroa

Pois, pressionado, sou forçado a ceder,ferindo o povo

E os nobres dão falsos testemunhos,instigando levantes contra seu rei.

Deste modo, controlam o país enquanto eles próprios o destroem.

 

Eles ditam seus impostos, taxas abusivas que indignam o povo

Este se mata na corvéia e vê seu pão ter fim na mesa do suserano.

Tribunais do feudo punem homens severamente e nunca com justiça

Pense o que quiser, mas esta é a verdade: eles não se importam!

 

Se não bastasse os problemas com minha gente para convir as lágrimas

Ainda temo por suas vidas, já que não sou capaz de protegê-los

Frente a um perigo imediato e de gravidade alarmante:

É a guerra, que surge ao norte provinda do reino comandado por Aspen.

 

De um potencial bélico inimaginável por nós, eles se mantém atentos

Um número surpreendente de mercenários anseiam pela invasão

Que não possuirei, em ano algum, contra tarefas para conter.

É por todo sofrimento alheio que hoje o trono me desperta medo.

                            À Kranchinsk, em satisfação a um dos nossos.

Cartas  De  Vingança 

meu nome é Kranchinsk 

e eu vos juro vingança   

 

Não se frustem na expectativa de caríssimas saudações

Já que a repulsa e o desprezo são os sentimentos que nutro por vós

Culpai vossos atos, que nos homens de bem desperta revolta 

E até os vermes tornam respeitáveis à vossa presença.

 

Hoje sei que a plebe vive em fome e a miséria se faz verdade

Os castelos acumulam riquezas e suas mesas se mantém fartas

E como todo ouro e prata é pouco perto de vossa cobiça

Ainda visam ao poder do trono, outrora sagrado.

 

Se julgueis o monarca simplório e em sua tolice lucrais

Sois astutos e de caráter tão pequeno quanto fraco

Sei que o erro é devido aos buracos de vossas almas,mas não admito,

Pois os danos se convertem aos pequenos e oprimem os meus.

 

Por que tamanha maldade para com aqueles que te sustentam?

A espada fere as mãos que a empunham?

Não mais importa. Sentimentos de vingança agora preponderam

O ódio para convosco me fará atravessar países,mundos, se for preciso

 

Duques, condes e viscondes, todos vós sois culpados

Ganância, luxúria, inveja e indiferença reinam em vós

Sabeis agora que é com o desprezo do ser humano

Que eu vos previno: vossos crimes não terão perdão.

 

Não quero cartas, nem lágrimas, sequer desculpas

A única coisa que espero ver da corja que sois

São vossas cabeças caídas sobre o chão perante mim

Tendo em sangue, uma expressão final de piedade.

                                                     Aos nobres, com desprezo.


 

Cartas  Em  Retificações

                 Meu nome é Kranchinsk 

esperava mais de ti.

 

 

Peço, humildemente, que aceites minhas sinceras desculpas

Se, em algum momento, minhas palavras chegaram a te ofender

Por serem dirigidas ao senhor teu pai, um amigo que hoje sei distante,

Mas que, em lembrança, sempre há de comigo estar.

 

Quanto ao filho, por quê tanta hostilidade, que rancor é este que nutres?

Por acaso sou eu culpado de tal fatalidade que até a mim entristece?

Certa vez, estávamos juntos e em teus olhos pude ver a inveja, 

Tão abominável sentimento que cresce no coração dos maus.

 

Não quero cogitar a hipótese de ser a razão pela qual conclamas guerra

És um príncipe de impressionante juventude, em completo esplendor

Sobre o comando de um reino próspero, uma potência admirável

E mesmo assim tu cobiças nossas parcas riquezas?

 

Saiba que ofertas de redenção não camuflam tua ganância.

Não ouse pisar neste solo, maculando aquilo que julgamos sagrado

Se é pouco para ti, para nós é tudo que restou, porém,

Ocorrendo, levantarei contra ti minha espada e sangue será derramado.

 

O caos em que se encontra minha pátria será erradicado

Tenho fé em meu povo e peço que tenhas também 

Isto é tudo. Espero não ter mais motivos para dirigir-te a palavra.

Aqui, restará apenas decepção, por haver esperado mais de alguém.

                         Ao Príncipe Aspen III, por um tempo que passará.


Canções  De  Partida

Meu nome é Kranchinsk 

e mesmo partindo estarei convosco

 

Salve irmãos!Inenarrável é o prazer pelo mero fato de estarmos juntos

Engrandecido pela formosa ceia que preparastes em minha homenagem

Pequenas coisas que expõem o fogo fraternal que arde em nosso peito.

Só tenho a agradecer por me concederem a honra de ser um de vós.

 

Infelizmente, quando o sol raiar, não mais estarei convosco

Pois iniciar-se-a uma longa jornada onde a sobrevivência é incerta

Sim, o caminho é árduo, mas sei que lagos e montanhas não me deterão

Mesmo que eu morra, o cavalo a mim concedido me levará ao destino.

 

Minha ida é necessária, pois há pessoas lá fora precisando de mim 

Eles clamam por ajuda e jurei protegê-los, em qualquer circunstância

Sabeis que o compromisso vai além de juras e questões de honra,

Toca sentimentos, pela terra que amo e que, um dia, chamei de lar.

 

Quantos cantos eu cantei entre estes que chamo de companheiros

De infante a jovem, cresci, tornando-me homem para poder liderá-los

Tudo que lá vivi me fez o que sou e ainda hoje faz parte de mim

Não posso ignorar tão fortes laços que carrego comigo.

 

Conheço o perigo, mas todo homem deve um dia enfrentar a morte

E não será a primeira vez, já que o faço a cada dia convosco

Sei que,mesmo no erro, poderei contar com vossa compreensão,

Lembrai-vos de mim, pois jamais hei de me esquecer de vós.

                                                 À Irmandade, encarecidamente.


Canções  De  Minha  Terra

meu nome é Kranchinsk e devei conhecer a verdade.

Salve irmãos! Sabeis que são e salvo alcancei meu destino.

Descrevo aqui a empolgante emoção que tomou conta de mim

Ao tocar novamente o chão onde pisei por toda minha vida,

Rever tantos rostos familiares estampando sorrisos,e sorriem por mim.

 

Apesar de todas as dificuldades que atravessam, se esforçaram

Para fazer de uma recepção um momento mágico 

Vi as mais formosas rosas dos jardins em arranjos de virtuosa beleza

Comida, em constante escassez, foi abundante nas mesas em que sentei.

 

Não devo porém, aliená-los em relação a situação que aqui contemplei

Vejo as lavouras, antes tão verdes, hoje sequer os ratos saciam

O terço do ínfimo cultivado abastece castelos e nutre suseranos 

Suas parcas economias se esvaem, na mão de cobradores de impostos.

 

Nos tribunais do povo,juízes desconhecem a verdade, ignoram a justiça

Os que não se submetem sofrem punições severas nas masmorras

Enquanto o displicente monarca mantém um reinado contemplativo

E toda nobreza se aproveita destes que sempre foram fiéis súditos.

 

É por isso que vos informo de antemão das atitudes que tomarei

Em prol de uma nação que anseia por reformulações gerais

Guiarei o povo na caminhada sobre a cidade dentro da muralha

Para varrer de uma vez por todas os tiranos que dominam este reino.

 

Ao povo o que é do povo e ninguém é mais digno desta terra 

Do que aqueles que construíram tudo que aqui se encontra.

Planos já formulei, para a operação que dará fim a era das trevas

Marcharemos sobre o país para tomar posse daquilo que nos pertence.

 

Podei confiar, os castelos desfraldarão nossas bandeiras

As estrelas estão do lado dos que lutam pelo que é certo

Os humildes trazem consigo a dignidade que os exaltará

Só peço a vossa bênção, pois até os deuses já vieram nos abençoar.

                                              À Irmandade, por vossa bênção.

Cartas  De  Insurreição

meu nome é Kranchinsk 

e o futuro exige mudanças

Sei que tudo aqui contido há de causar-te intensa dor

Mas o ponto em que chegamos fez minha atitude imprescindível

E antes que viesse o pior,nossa esperança nos levou a erguer os braços

E dando as mãos, tomamos decisões que darão novo rumo à nação.

 

A multidão já encobre todo o chão dentro das muralhas da cidade

Eles entoam um hino novo, uma canção que fala de paz 

Esperando apreensivos pela nova ordem a ser implantada

E somente eu, ousei adentrar teus aposentos para esta te entregar.

 

A guarda imperial se rendeu após abordagem e, enquanto lês,

Cada nobre é capturado em seu leito tendo seu castelo ocupado.

Quanto a ti, ordeno que abandones o quanto antes estas terras 

Para não ter o mesmo fim que está a espera dos sujos nobres.      

 

Sobre isto, tens minha palavra, que serás poupado

De modo algum injúrias e blasfêmias serão lançadas contra ti

Teu nome será respeitado e lembrado com apreço

Pois, com justiça, fizeste muito por todos e reconheço.

 

Aproxime-se da janela e observe o horizonte de teu reino

Contemple pela última vez, como monarca, a terra sobre a qual reinaste

Lembra-ta que nada disso foi teu, pois o rei não possui, ele reina sobre

E mesmo assim deste o teu melhor pelos que estão sob os teus olhos.

 

Não se apresse quanto ao tempo, que hoje pode passar

São sagrados teus pertences, tê-los contigo é um direito que te assiste

Atrás da grande porta aguardo pacientemente respostas de tua parte

Eu levarei a boa nova ao povo, rogando por ti ventura e prosperidade.

                     À Vossa Majestade, o rei Zard, pela nova ordem.




 

Deste que hoje é um plebeu:

Carta  De Abdicação

eu sou Zard 

e que seja feita a vontade do povo

 

Ave, herói da plebe! Aquele que veio para redimir uma nação

De forma selvagem teus discípulos se mantém em guarda

À frente dos portões de meu palácio, empunhando foices e martelos

Com sede de sangue, espírito que não pode reinar em homem algum.

 

Acredito em tua capacidade para ocupar o cargo que almejas

É por isso que não levarei em consideração tuas ameaças

E darei a chance ao homem que o povo confia de efetuar melhor trabalho

Abdicando, em teu nome, o trono que fora de meu pai.

 

Acautele-se com o mundo novo que surgirá a tua frente

O poder corrompe, não só o corpo, como também a alma do homem.

Caso venha a equivocar-te quanto aos que estarão ao teu lado

Estarás cometendo os mesmos erros que eu e isso será tua ruína.

 

Lembre-se de mim em teus dias de felicidade, pois foi jovem

Que reergui um reino em colapso, ao sonhar como hoje sonhas

E grandes são aqueles que ousam sonhar um sonho nobre

Fazendo o que julga certo, sem ceder a qualquer sentimento mesquinho.

 

Errarei pelo mundo afora em busca de um novo sentido

Não posso acusar ninguém pelos erros que possuem um só culpado

A ti, só tenho a desejar sorte, pois sei que irá precisar

Diga adeus a todos. Apesar de tudo,cada um deles foi amado por mim

 

O futuro a mim se revela sombrio e desperta receio

O que resta a um velho como eu que até a saúde falta?

Ao final da vida só tenho a esperar a morte com terror por,

Num fatídico instante,vir a cair solitário,longe de tudo que um dia amei

                                        À Kranchinsk, vida longa e próspera.


 

Canções  De Libertação

meu nome é Kranchinsk e nos foi concedida a vitória

Salve,irmãos! Dai graças hoje e sempre pelo triunfo por nós conquistado

Pois, de assalto, depomos os poderosos e exaltamos os pequenos

Enaltecendo o heroísmo de nossos homens, que não são guerreiros,

Mas lutam com a determinação dos bravos que não temem a morte.

 

Grandiosa vitória que abre nossos horizontes em busca do melhor.

Abrimos os barris dos castelos e celebramos noite adentro

Com vinho de uma safra especial que mesmo raro, fartou a todos.

Inestimável é nossa satisfação,pelo formidável espetáculo de valentia.

 

Os membros da baixa nobreza, repugnantes criaturas

Hoje habitam as masmorras de um palácio sem dono e aguardam,

Em pelourinhos,o trágico desfecho dessa existência medíocre.

É a punição por sustentarem soberba e perversidão por toda uma vida.

 

É de minha vontade erguer um reinado à altura da bravura desse povo

O mínimo que posso fazer para retribuir toda fé em mim depositada

As medidas já foram tomadas e cada ordem é obedecida com denodo

Vejo nos olhos de cada um a esperança que nutrem por um era de paz.

 

As portas do paiol imperial foram abertas para saciar o povo

Jamais um dos meus voltará a passar fome sob meu comando.

Com prudência, cada grão, após consumo será ressarcido

E nos rios, línguas trarão fartura à toda lavoura que hoje agoniza.

 

Os impostos serão pagos em espécie por aqueles que podem,

Aos outros, a corvéia, mas,de modo algum, alguém se sentirá oprimido.

Assim continuará, até que o reino volte a prosperar e, juntos,

Possamos colher os frutos que com esforço estamos plantando.

 

Uma força tarefa foi enviada com urgência às terras do norte,

Com a única missão de assegurar proteção aos habitantes da região

Todos são meus filhos e seu zelo é de minha inteira responsabilidade.

Por isso ficarei, para o que preciso for, até que chegue a hora de voltar.

                                    À Irmandade, do reino que hoje é nosso.

De toda nobreza hoje privada da liberdade:

Cartas  De  Clemência

 

Saudações, venerável rei, que nos admirastes com grandeza d’alma

Hoje prestamos homenagens reverenciando a glória de vossa conquista 

Vos congratulando por haverdes tomado o que por direito é dos fortes,

Mas, outros como vós, caíram, despojados de todo o poder.

 

Às vésperas de nossa execução, inconformados, entendemos o destino

A morte nos revela sua face e frente a tal horror nos desesperamos

Mas cremos em vossa bondade que não vos deixará ser levado 

Por sentimentos de vingança, nascidos de depoimentos equivocados.

 

Não maculareis honrosa vitória com tamanha covardia

Fareis nosso solo rubro derramando sangue nobre para saciar a fúria

Dos que em vigília festejam, em torno da guilhotina, o fatídico instante

Que se aproxima e imprimi medo, afligindo mais que o gélido cárcere.

 

Se acaso chegamos a pecar,os crimes foram pagos com enormes perdas

Até nossos serviçais, outrora fiéis e dedicados ousaram nos humilhar

E não sabeis que são os membros da baixa nobreza que mantém a paz?

Nossos conceitos impedem uma invasão por parte dos reinos do norte.

 

Sabemos que só vosso perdão poupará nossas medíocres vidas

Última riqueza que nos restou e por elas esperamos piedade

Negando todo nosso orgulho nos curvamos diante de vós

E imploramos misericórdia por pena de nossa insignificância.

 

Hoje, a noite trará o pânico e, em nossos pesadelos,

Os Senhores do Mal evocaram nossas almas por sadismo

Mas vossa anistia nos afastará das trevas, concedendo a luz

Por desprezo, tenhai compaixão e compadecei-vos de nossa humilhação.

                                      A Kranchinsk, por vossa misericórdia.




 

Canção  De  Escárnio

meu nome é Kranchinsk e eu rio de vossa desgraça

Devo reconhecer que vossa carta me causou imensa alegria

E que vosso desespero arrancou de mim gargalhadas convulsivas.

Realmente gostaria de lamentar por vosso trágico destino,mas,

Tão apreensivo quanto o povo,conto os dias para vossa execução.

 

Desprovidos de qualquer moral sequer mateis a dignidade,

Humilhando-vos. Tivestes a chance de partir como homens,

Mas a covardia vos levastes a implorar pelo que não tem valor.

A morte será apenas um dom concedido a vós com desprezo.

 

O povo não anseia por sangue, mas clama por justiça

Como a alma de justos que vagam  gritando em agonia

Negados de descanso devido a vossa impiedosidade. 

São pais que vêem os filhos chorar sem poder tocá-los.

 

Nascestes em berço de ouro e por longo tempo reinais

Hoje devei agradecer pelo fim rápido e piedoso até

Tiverdes sorte de não conhecereis o outro lado

Que fizestes questão de apresentar a todos da plebe.

 

Imperdoáveis são vossos crimes e eu vos adverti

Mas me julgastes pretensioso, duvidando da vingança

Vejo que não clamastes pelos deuses em vosso favor

Pois seria grave heresia invocá-los em vossa causa.

 

Vós cometestes atos hediondos durante toda a vida

É indigno tamanha indiferença para com teu semelhante,

Inadmissível,mas vosso sangue selará uma era de trevas

E não nos deixará esquecer que o mal outrora reinou.

 

Sabeis que, morrendo, favoreceis o mundo erradicando um erro

Eu estarei lá, entre gritos e aplausos, quando a lâmina descer

E meu olhar frio apenas os banirá para o mundo dos mortos

E nesse momento eu rezarei, não por vós, mas pelos meus.

                             Aos nobres, pelo fim que se aproxima.

© 2013 Igor Anatoli                                   Created at Razzoit Studios - Berlin, Germany.     

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