
Igor ANATOLI
Trechos de livros e trabalhos do autor
ILHABELA
Decidi partir em busca desses mistérios e retornei para poder percorrer o litoral. Meu caminho seria longo através da avenida principal, a Princesa Isabel, que ligava toda parte norte da ilha. Percorri novamente uma pracinha menor que, com muitos bancos e árvores, marca a junção da Avenida Princesa Isabel com a praia do Perequê que assim como as outras praias que se seguem lembram em muito os paraísos perdidos dos velhos filmes de náufragos e nada lhe devem em beleza. Pensei ter retornado à Bahia devido ao clima ambientado pelos coqueiros que se erguem as margens da praia cercando os diversos quiosques de madeira cobertos por pau a pique. Seus clientes que sentados em cadeiras sobre a areia ouviam descansados músicas diversas degustando bebidas, contemplavam o continente representado em proximidade pela cidade de São Sebastião no horizonte não tão longe, sobre o mar que banha a praia. Eu parei um pouco por ali. Sentei-me e pedi uma água de coco enquanto contemplava a deslumbrante vista do canal que separa a ilha do continente, por onde trafegam grandes mercantes ao lado de pequenos veleiros que lentamente ditam sem saber o ritmo de tranqüilidade que paira sobre estas terras.
O coco acabou e os barcos passaram. Eu prossegui em minha jornada e novamente a caminho da Vila eu me fascinei ainda mais com todos os encantos que exibiam-se à rua como se desejassem seduzir os viajantes incautos e assim fizeram comigo. Cada casa contribuía um pouco construindo com detalhes um panorama vistoso. Árvores se lançavam por trás dos muros de pedra sobre a rua compondo túneis por todo o trajeto. A deslumbrante diversidade de flores coloria o infindável caminho de fresca e agradável sombra. Tudo é admiravelmente limpo e os pássaros que entoam diferentes cantos tornaram ainda mais aprazível meu caminhar. Eu traspassei praias, pequenas, mas de grande formosura que tem na decoração dos hotéis e casas à sua orla um encanto a mais. Tudo ali se inclina em valorizar a notável natureza desse paraíso. Eu tento descrever em palavras, mas, caro leitor, só quem já caminhou por aquela cidade sabe como a umidade do ar pode ser delicadamente perfumada pelo aroma das flores, sabe da brisa que trás consigo o burburinho do mar e derruba sobre os pés as folhas secas das árvores. Seguir por estas ruas é entregar-se a um surpreendente passeio que tem como guia atento as placas em madeira a nomear praias e bairros, descrevendo distâncias e indicando a direção de pontos turísticos. Se já me encontrava maravilhado com tantos prodígios do lugar que talvez existam sem saber da beleza que possuem, como seria minha reação frente aos pontos de ápice turístico da ilha cultuados pelos moradores e visitados pelos viajantes? Uma coisa é certa, visitar este recôndito de extraordinária beleza é contemplar sobre a terra um milagre que a mão do homem não ousou deturpar.